quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

George Romero explica: "Os zumbis de The Walking Dead não são meus zumbis"

O excelente site io9 descolou uma entrevista com o criador dos zumbis como os conhecemos hoje, George Romero, e perguntou a ele sobre como se sentia a respeita do seriado "The Walking Dead". Romero disse que apesar de gostar muito do trabalho dos envolvidos (Dorabont, especialmente), ainda não teve a oportunidade de se sentar e assistir ao seriado. Romero ainda aproveitou e falou sobre a "febre zumbi" que acontece hoje e sobre seus novos projetos futuros. Segue abaixo a transcrição da entrevista (traduzida rapidamente por mim, desculpem qualquer erro):


Não se deixe enganar pelas aparências, este homem é a razão pela qual você sobreviverá ao Apocalipse Zumbis

O que você acha de Walking Dead?


George Romero: Eu adoro os livros, eu ainda não vi nenhum dos episódios. Veja bem, eu adoro Frank [Dorabont, um dos criadores da série], eu sei que ele fez um bom trabalho. Eu adoro os livros, eu nunca asssti a nenhum dos episódios porque... meus zumbis são meio que particularmente meus. Eu não queria fazer parte disto. Os produtores me chamaram e disseram: "Você quer dirigir alguns destes?" e eu disse "não". Porque eu simplesmente pensei que não aquilo não era eu. Eu estou esperando para assistir a primeira temporada inteira, que eu perdi pois ando viajando. Eu espero dar uma olhada, mas ainda não assisti a nada disso.


Você diz que não são os "meus zumbis". Então, o que é um zumbi de Romero?


George Romero: Meus zumbis são puramente um desastre. Eles são um desastre natural. Deus mudou as regras e de alguma maneira, essa coisa toda está acontecendo. Minhas histórias são sobre humanos que lidam com isso de maneira estúpida, e é por isso que eu os uso. Eu os uso meio que para fazer gozação com o que está acontecendo com um número de eventos sociais. E é isso, eu não os uso somente para criar carnificina. Mesmo que eu use carnificina, não é sobre isso que meus filmes são, eles são muito mais políticos. É isso. Isso tudo de "revolução zumbi" é inacreditável. Nós estívemos na França na semana passada, e 3.000 zumbis vieram para a Zombie Walk. Nós vamos à Cidade do México na semana que vem e nossa expectativa é de que 5.000 "zumbis" apareçam. Eu não sei como isso aconteceu. Eu contribuí mais para video games do que para filmes. Se você quiser olhar somente em termos econômicos, nenhum filme de zumbis jamais alcançou a marca de U$100 milhões de dólares nos cinemas, exceto por Zumbilândia. Esse foi o único. Mas vídeo games venderam centenas de milhares de cópias, então eu creio que toda essa loucura zumbi é mais sobre vídeo games do que filmes.


Você mencionou que seus zumbis são mais políticos. Como a mensagem política no primeiro filme de mortos vivos (se referindo à Noite dos Mortos Vivos) mudou através dos anos? Você acha que as mensagens anti-consumismo e anti-militarismo ainda são aplicáveis?


George Romero: Eu acho que isso muda. Eu fiz um sobre jornalismo cidadão, fiz um que era basicamente sobre o Iraque, a guerra. Se eu tenho algo a dizer, se eu quero escrever, por exemplo, sobre jornalismo cidadão, se eu tentei escrever algo sério sobre isso - primeiro de tudo, eu não tenho a habilidade necessária para escrever para o Lapham's Quarterly e eu me divirto muito mais escrevendo sobre isso e incluindo zumbis e fazendo isso ser um pouco mais "bobo", um pouco mais descontraído e um pouco mais irreverente. E é mais fácil para mim fazer dessa maneira. Então sim, eu penso que se eles bombardearem a Philadelphia, eu provavelmente irei me sentar e escrever alguma coisa zumbi sobre bombardear a Philadephia, desde que eu sobreviva ao desastre. É a minha maneira de ser meio que relevante ou conseguir comentar sobre situações atuais, sem ser pretencioso. E é a minha maneira de fazer uma carreira com isso. Eu suponho que talvez possa ser o Michael Moore do horror.




Há algum outro assunto social pairando por aí agora ao qual você gostaria de atacar em outro filme?


George Romero: Eu adoraria fazer algo sobre a economia. Mas zumbis não são bons matemáticos. Eu não acho que eles iriam siar por aí vendendo hipotecas furadas ou nada do tipo. Então, é difícil para mim ver isso. Um amigo meu recentemente escreveu um romance chamado "As autópsias Zumbis" (Ainda não lançado no Brasil), e é sobre um grupo isolado de pessoas realizando autópsias em zumbis durante o apocalipse zumbi e tentando descobrir o que diabos está causando isso. Eles acabam encontrando essa descoberta...

[ATENÇÃO, SPOILER SOBRE O LIVRO]

Os cientistas descobrem que não é um vírus de ocorrência natural, eles deduzem que deve ter sido criado por alguém. E mais tarde, descobrem que foi criado por pessoas que estavam tentando ficar à frente da economia. Então esta é uma maneira única de falar sobre a economia, mas não é minha história. Steven C. Schlozman é o nome do cara, ele é um psicólogo de Harvard que de alguma maneira foi arrastado para a loucura zumbi e está escrevendo romances sobre o tema.


Como o significado dos zumbis mudou? Somos todos apenas um monte de zumbis andando através de um shopping?


George Romero: Ah cara... 68 foi meu primeiro filme, eu acreditava que talvez fosse o primeiro filme que continha a nova ordem de zumbis, eles seriam os nomeadores. Ao invés de criaturas exóticas conjuradas por altos sacerdotes nas ilhas caribenhas, você sabe "The Serpent and the Rainbow" [Lançado no Brasil como A maldição dos mortos vivos, de Wes Craven] fazendo o trabalho molhado para Lugosi. Quando eu cresci, zumbies eram apenas aqueles rapazes de olhos largos nas ilhas caribenhas que eram basicamente escravos de algum mestre. Quando eu fiz meu primeiro filme, eu não os chamei de zumbis porque eu não imaginava que eu poderia, eu pensava que eles eram o que os zumbis eram. Eu apenas queria que algum tipo de evento extremo ocorresse, e eu os chamei de "Ghouls" (algo como "carniçal, demônio" em português). E foi isso. Eu não pensei em chamá-los de zumbis. E agora, eles se tornaram zumbis. Tudo o que fiz foi torná-los vizinhos.


Como os zumbis mudaram hoje?


George Romero: Agora os zumbis possuem suas próprias regras - Eles não agem de maneira uniforme, mas eles são populares o suficiente para eu meio que esperar que um zumbi apareça em Vila Sésamo e passe um tempo com o Conde. Vampiros se tornaram o Conde em Vila Sésamo, um zumbi poderia ser o próximo cara. Eu não sei, é loucura.


Quais são as chances de que você faça uma sequência de "Madrugada dos Mortos" e traga de volta os personagens originais, como uma história do tipo "onde eles estão agora"?

George Romero: Eu acho que jamais faria isso. No último filme zumbi que eu fiz, utilizei personagens de um filme anterior, foi proposital. Eu fiz "Diário dos Mortos" e eu tive um sonho de que meus três próximos filmes seriam baseados em personagens de "Diário...". Eu jamais pensei que iria querer voltar a isso, para o "Madrugada dos Mortos". Primeiramente, "Madrugada dos Mortos" já foi refeito. Meio que, eu não sei, irreverentemente eu diria, mas refeito. Zack Snyder é um grande cineasta, mas eu acho que a refilmagem de "Madrugada..." realmente perdeu sua razão de ser, porque pertenceu a um tempo, você não pode refilmar isso. Quando eu fiz "Madrugada dos Mortos", eu estava basicamente respondendo. Eu conhecia socialmente as pessoas que haviam desenvolvido o primeiro Shopping Center coberto na Pennsylvânia. Eu fui até lá para ver e fui atingido em cheio por aquilo.. Eu disse: "Ok", finalmente eu poderia conseguir fazer uma sequência para "A Noite dos Mortos Vivos" usando este conceito de Shopping Center, ao invés de uma velha fazenda. Era isso, e foi então que eu decidi que poderia fazer uma sária política na forma de um filme de terror. Mas isso não tem mais poder, existem shopping centers em cada esquina, então não há mais nenhuma razão de ser, eu não acho que se possa refilmar aquele filme.


Em "Diário dos Mortos" você experimentou com o estilo "filmes encontrados" (estilo Bruxa de Blair), o ponto de vista da vítima e as filmagens encontradas. Existe alguma espécie de técnica de filmagem que você queira experimentar no próximo projeto?

George Romero: Oh, eu adoraria, "Survival of the Dead" (Ilha dos Mortos, no Brasil) foi um faroeste. Eu adoro John Ford, eu adoro William Wyler e eu moldei "Ilha dos Mortos" de acordo com um faroeste de Wyler chamado "The Big Country" (Da Terra Nascem os Homens, no Brasil). De maneira sem vergonha nós iríamos roubar do imaginário deste filme e os temas e tudo o mais. Eu adoraria fazer o próximo, eu tinha tudo planejado e eu não sei se irá ser filmado algum dia, Eu estava planejando fazer algo no estilo Noir. Mas este sou eu, é o meu vício em querer dizer algo sobre o que está acontecendo hoje. É divertido para mim tentar e fazer algo em um estilo diferente da mesma maneira. Eu hesito em chamar isso de homenagem, é só inveja. Eu queria ser John Ford. [risadas]

Então, um filme sobre o colapso econômico zumbi noir?

George Romero: Como você faz isso, cara? A parte noir pode ser ok - zumbis todos encurvados e não conseguindo encontrar comida em lugar nenhum. Mas veja, a comida deles não é a nossa comida... Eu não sei como fazer isso. O mais próximo que eu posso imaginar está em "Autópsias zumbis" - do mesmo jeito que Wall Street tramou as hipotecas, alguém tramou um grande colapso da sociedade. Alguém disse: "O mundo está populoso demais. Nós vamos matar metade da população do mundo e como resultado, nós iremos nos tornar mais ricos!" É a única maneira que eu vejo sendo feito.

Você deveria comprar os direitos desse livro


George Romero: Nós o compramos. Está feito, e eu estou trabalhando no roteiro agora mesmo.

Então você vai filmá-lo no estilo Noir?


George Romero: Eu posso decidir seguir esse caminho, eu não sei. Essa é a história de Steve, não a minha. É algo mais como "The Andromeda Strain" (O enigma de Andromêda, no Brasil). É muito tenso e muito correto, medicinalmente falando. O cara é um médico, é tudo sobre ser medicamente correto. Eu acho que será como o primeiro filme de Hammer Franlenstein, que era todo sobre cenas extremamente gráficas de cérebros flutuando em sangue e coisas do tipo. Eu quero ser perfeitamente preciso, de maneira chocante.
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Parece que Romero ainda será lembrado por gerações futuras como alguém que sempre tem algo a acrescentar às suas próprias criações de quase meio século atrás.

3 comentários:

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  2. Nossa alguem deu pro Durabond ontem...

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  3. George A Romero eh genio...

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